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O jornalismo brasileiro denuncia hoje o golpe Boliviariano que já se deu dezoito anos atrás

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A “Folha de São Paulo” “noticiou” que passará a chamar Maduro de ditador. Por sua vez, o jornal “O Globo” afirmou, por meio de seu editorial, que Maduro “inspira projeto autoritário no Brasil”. Desde a publicação destas matérias, muitos passaram a comemorar aquilo que poderia ser caracterizado como o “despertar” do mainstream jornalístico para a natureza do regime político que está em curso no país vizinho. Um exame mais cuidadoso do conteúdo das respectivas publicações revela que elas não merecem aplauso algum.

A matéria da “Folha”, por exemplo, está atrasada em pelo menos dezoito anos. Em 1999, Hugo Chávez já havia convocado uma Assembléia Constituinte. Assim como essa que se organiza agora, a anterior também cassou prerrogativas da Assembléia Nacional da Venezuela, como noticiou a própria “Folha” na época. Na verdade, a atual Constituição em vigor, que vai sendo rasgada em nome de uma nova e ainda mais severa, já é uma urdidura golpista feita para consolidar o Bolivarianismo. O poder, como se pode notar, nunca é suficiente.

Também é preciso lembrar da perseguição aos críticos, sejam eles da mídia, sejam dos partidos de oposição. Foi durante o Governo Chávez que emissoras de TV tiveram seus sinais desligados ou sua continuidade inviabilizada, como aconteceu respectivamente com a “RCTV” e a “Globovision”.

Da mesma forma, muitos anos antes de o líder oposicionista Leopoldo López se tornar um preso político, Alejandro Peña Esclusa, que chegou a disputar uma eleição presidencial, foi vítima de uma acusação fajuta de terrorismo, sendo preso de forma suspeita pelo Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional). Esclusa só foi solto por problemas de saúde e sumiu do noticiário do país.

Há uma clara tentativa de se desvencilhar Nicolás Maduro de Hugo Chávez, como se o atual governante tivesse conspurcado o “legado” de seu antecessor. Até mesmo “O Globo”, no editorial já mencionado, traça distinções entre ambos. Afirma, por exemplo, que a “Constituinte de Maduro já havia sido feita por Chávez em 1999, em outro contexto, com o presidente recém-eleito e sustentado por alta popularidade — ao contrário de Maduro. Como era o plano, a assembleia serviu para garrotear o Legislativo e o Judiciário”. 

Da forma forma como está posto, parece que não há problema em se substituir a Constituição se o ato for praticado depois da eleição e com alguma popularidade. Presidente nenhum, aprovado ou não, tem o direito de minar o sistema político e jurídico para continuar no poder.

O que se tem hoje na Venezuela é apenas uma tirania sem um líder animador de auditório que lhe empreste graça. Os arroubos circenses de Chávez tinham a função de maquiar o autoritarismo vigente. Com sua morte, sobrou a truculência engessada de um meganha sem carisma. Nos objetivos e nas práticas, não há distinções entre Chávez e Maduro. O golpe denunciado hoje por meio de notícias e editoriais já aconteceu no passado sob o silêncio indecoroso da mídia.

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