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Os petistas usam o caso Aécio Neves para reforçar sua armadilha moralista

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A direita sempre foi refém do moralismo. Não por oportunismo, como a esquerda das últimas décadas, mas por convicção inocente. Não é por acaso que hoje são os setores da direita os mais radicais apoiadores das patuscadas protagonizadas pelo Rodrigo Janot e pelo Ministério Público Federal.

É parte da direita que quer “todos na cadeia” e as benditas “Dez Medidas contra a Corrupção”, ainda que boa parte delas sejam autoritárias e inconstitucionais. Mas por que se importar com o ornamento legal presente se a pretensão é a de termos um Brasil “passado a limpo”? A ética virou a utopia de nossos liberais e conservadores. 

Sabedora disso, a esquerda faz destes setores da direita os seus idiotas úteis. A narrativa de que as práticas de todos os partidos são iguais, criada na época do Mensalão, só ganhou força depois do advento da Operação Lava Jato. A ideia de uma corrupção revolucionária, erigida para manter o poder hegemônico do PT, se perdeu em meio ao denuncismo irresponsável. Lula, Michel Temer, Aécio Neves, José Dirceu, Geddel Vieira Lima, Renan Calheiros, Antonio Palocci e os deputados do baixo clero de siglas nanicas foram nivelados. O power point de Deltan Dallagnol, correto mas inoportuno, destoa ante a uniformidade que se consolidou na boca do povo. O Petrolão, que antes era uma pirâmide, virou um esquema horizontal.

Em 2014, Aécio Neves foi visto por muitos direitistas como uma mera alternativa aos 14 anos de PT, embora longe de ser o nome dos sonhos. Facilitou o fato de o candidato ter se postado com maior altivez do que seus correligionárias em pleitos anteriores. Em diversos debates, Aécio desmontou Dilma Rousseff, de modo que, mesmo derrotado, acabou angariando alguma simpatia genuína.

No curso das investigações da Lava Jato, Aécio acabou envolvido em uma série de denúncias por parte do Ministério Público Federal. Entre as acusações, corrupção e obstrução de Justiça. Na medida em que seu nome ia aparecendo no noticiário do escândalo, sua popularidade junto ao então eleitorado de oposição ao PT ia diminuindo.

Ontem, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal resolveu afastar Aécio Neves do Senado pela segunda vez.  Votaram nesse sentido os ministros Roberto Barroso, Luiz Fux e Rosa Weber. Além disso, determinaram que o Senador se recolha em sua casa durante a noite, não deixe e país e não mantenha contato com outros investigados.

Inebriada pela sanha punitiva, parte da direita se apressou em condenar Aécio por antecipação, ainda que nem réu ele de fato seja. Alguns, mais exasperados, chegaram a declarar publicamente o arrependimento de ter votado em Aécio. Tudo para poder bater no peito, em direção aos petistas, e dizer: “não tenho bandido de estimação!”. Em meu Facebook argumentei, sem entrar no mérito da denúncia, que não me arrependia de ter votado em Aécio, visto que havia o escolhido com base nas informações disponíveis na época. Como prever que ele seria um alvo da investigação?

Em 2014, os principais delatores da Lava Jato, Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa, apontavam seus canhões para o PT. Na véspera da eleição, a revista VEJA publicou matéria com trechos do depoimento de Youssef. A manchete de capa, que estampava os rostos de Dilma e Lula, era: “Eles sabiam de tudo”. 

Diferente de Lula, que já foi condenado em 1° Instância, o STF ainda não recebeu as denúncias feitas pela Procuradoria Geral da República contra Aécio. É cedo, portanto, para determinar sua culpabilidade. Mesmo assim, o estrago já está feito. Todas as pesquisas de opinião mostram que Aécio derreteu politicamente. É improvável que consiga até mesmo a reeleição em seu Estado natal. Lula, entretanto, permanece firme e forte. Mesmo com a sentença de Sérgio Moro no caso do Triplex, mesmo com as revelações de Antonio Palocci, mesmo com os documentos sobre o Instituto Lula fornecidos pela Odebrecht. O ex-Presidente continua batendo seus adversários nos cenários eleitorais e já está em campanha.

A direita continua atirando aqueles que representam algum tipo de oposição ao PT no cadafalso. O Aécio de hoje é o Demóstenes Torres de ontem. Eis aí a armadilha moralista dos esquerdistas. A todo momento o eleitorado conservador é desafiado por eles a reafirmar sua defesa intrínseca da ética. De bom grado, cabeças são entregues, ainda que contra elas possam pesar denúncias frágeis. Ao invés de aplaudir os direitistas pela sua coerência moral, os esquerdistas apenas reforçam seu desafio, exigindo mais cabeças em um círculo vicioso insano. Enquanto isso, reafirmam a narrativa de que “todos são iguais”, e como prova exibem os cadáveres políticos cedidos gentilmente pelos próprios adversários.  

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