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A emoção e a análise política no caso Lula

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Meu último artigo aqui no Lócus não foi bem recebido. Eu já imaginava. Afirmei que Lula, condenado a 12 anos de prisão, continuava tendo enorme poder político. Mais do que isso, vaticinei que, uma vez candidato, ele venceria as eleições presidenciais. Contrariados, alguns leitores acusaram o portal de receber dinheiro dos petistas e eu de ser apoiador do ex-presidente.

Onde é que já se viu reconhecer a capacidade do adversário? Parte dos antipetistas só se contentam com textos nos quais o ex-presidente é retratado como um cadáver político. Outros só querem adjetivações. Se Lula não aparecer sendo chamado de ladrão, salafrário, criminoso, bandido, psicopata ou qualquer outro qualificativo desses, o autor não agradará e acabará chamado de traidor e esquerdista. Imagina então escrever que seu governo continua “bem lembrado”, que possui “recall” e que seus opositores ainda não o venceram no campo político, já que nunca conseguiram construir “um discurso alternativo ao dele”.

Pelos mais variados motivos, parcela considerável do público não busca mais a reflexão. Nem mesmo o ponto de vista alternativo. Mas tão somente o simulacro de suas próprias opiniões. E aqui não estou asseverando que sou dono da razão, ou que visões diferentes não estejam corretas. No entanto, é importante considerar apontamentos que venham na contramão do que é tido como líquido e certo. Se a única argumentação que presta é a sua, então o melhor é deixar leituras e comentários de lado e falar na frente de um espelho.

Na próxima terça-feira, muitos tomarão as ruas para pedir a prisão de Lula. Estarão em seu pleno direito. Quase todos estarão lá firmes em sua convicção de que manter o ex-presidente solto é uma excrescência moral e jurídica, mas também, em boa medida, pelo receio de que, fora da cadeia, ele possa se manter competitivo eleitoralmente. Ao mesmo tempo em que há a mobilização pela sua punição, há o temor de seu retorno ao poder pelos votos.

Quem me acompanha sabe o que penso de Lula e do seu grupo político. Tenho firme convicção de sua responsabilidade central no maior esquema de corrupção da história da humanidade. Minhas preferências e torcidas particulares não podem, entretanto, ser confundidas com a leitura que faço dos fatos.

Seria irresponsabilidade se, para agradar o público, ignorasse minhas impressões e escrevesse somente com base em meus sentimentos. Não estaria me comportando como um jornalista, mas como um militante.

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