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Afinal, o que passa na cabeça de Joaquim Barbosa?

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Talvez a maior novidade da última pesquisa Datafolha tenha sido a inclusão de Joaquim Barbosa entre os possíveis presidenciáveis. Ele aparece com 10% da preferência entre os entrevistados do Instituto, sempre à frente de outros candidatos como Geraldo Alckmin e Ciro Gomes. Para quem aportou agora no mundo da política, trata-se de um resultado considerável.

É bem provável que a totalidade dos números apresentados pelo ex-ministro do STF seja em razão de sua atuação como relator do julgamento do Mensalão. Na época, Barbosa angariou enorme apoio popular ao votar pela condenação de inúmeros dos envolvidos. Durante as sessões, assumiu uma postura dura, contrastando com a de colegas como Ricardo Lewandowski, que era visto como tolerante e simpático aos réus. Na visão de muitos, Barbosa foi um pseudo-herói togado. Até como Batman ele foi retratado.

Se é pré-candidato, precisa esclarecer suas posições. Já sabemos, por exemplo, sua opinião sobre o impeachment de Dilma Rousseff. Já chamou o processo de “tabajara”, além de considerá-lo um “patético espetáculo”. Disso podemos depreender que se opõe às medidas econômicas tomadas por Michel Temer, bem como do atual governo.

O que ele acha da Reforma da Previdência? E da Reforma Trabalhista? É contra ou a favor das terceirizações? Privatizaria a Petrobras? Qual é a opinião que tem sobre a atual política de juros e o tripé macroeconômico? Que nome escolheria para administrar a economia? Manteria ou não a intervenção federal no Rio de Janeiro? Qual será o foco de sua política de combate ao crime organizado? Acha justa ou injusta a prisão de Lula? São questões válidas, que são bombardeadas nos ouvidos de outros concorrentes.

Pelo que já escreveu e disse por aí, se for candidato, Barbosa deverá assumir uma postura claramente esquerdista. Resta saber se conseguirá ser bem sucedido. O petismo guarda ressentimento do ex-ministro. Considera-o um traidor da causa, que virou as costas para aqueles que haviam possibilitado sua chegada ao topo da Justiça.

Será que Barbosa conseguirá conciliar a imagem de ético e defensor da moralidade ao mesmo tempo em que precisa atrair o público que é órfão eleitoral de um criminoso condenado? E como operar isso mantendo a outra parte de seus apoiadores, aqueles mesmos que o aplaudem por ter ajudado a encarcerar a cúpula do PT? Será um desafio e tanto.

Por fim, cabe também o questionamento sobre sua capacidade de articulação e aglutinação. A personalidade e a postura de Barbosa fazem Ciro Gomes parecer uma vovozinha simpática. Quem o conhece da época em que estava no STF sabe que se trata de um sujeito inflexível e chegado aos arroubos retóricos.  Não parece ser do tipo que gosta de conciliar posicionamentos, muito menos que submeta sua vontade à de outros.

O Barbosa que ficou na memória de muitos brasileiros é aquela figura séria e inclemente para com os foras da lei. É uma visão parcialmente correta, mas devidamente desfigurada pela idealização moralista. Isso, entretanto, é insuficiente para o cargo executivo. Para ser Presidente, Barbosa terá de deixar bem claro o que pensa sobre os mais variados assuntos. E, até aqui, o que já demonstrou pensar não é grande coisa.

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