Geral

O “clima de ódio” virou o culpado conveniente para todos os crimes

Publicado

on

Marina Silva esteve na Bahia, onde comentou a disputa eleitoral e o tom das campanhas. Criticou aquilo que chama de “discurso da violência”. A candidata do Rede também fez uma referência ao ataque a Jair Bolsonaro. Para ela, “a melhor forma de se sentir seguro é não incitando o ódio”. Em outras palavras: não dê motivos para ser esfaqueado. 

É possível imaginar a frase de Marina para outras situações. Basta trocar as palavras: “a melhor forma de não ser estuprada é não usando roupas decotadas”, “a melhor forma de não ser furtado é não andando com o celular na mão”, “a melhor forma de não ter a propriedade invadida é morando de aluguel”. Posto do modo como ela faz, o autor do crime sempre é a vítima, que apenas sofre as consequências de seus próprios atos e escolhas. Trata-se de uma inversão pérfida que se tornou comum em nossos dias.

Para além disso, se examinada em seu sentido estrito, a declaração de Marina não tem o menor amparo histórico. Abundam casos de pacifistas vítimas de violência. Martin Luther King, Mahatma Gandhi e John Lennon foram assassinados mesmo sendo defensores da paz. O próprio Papa João Paulo II foi alvo de um atentado. Até onde se sabe, o líder religioso jamais fez sinal de armas com as mãos. Mesmo assim, isso não impediu que um criminoso atirasse contra ele.

Agora é tudo parece ser motivado pelo ódio. Em seu discurso, Marina Silva fez questão de citar o assassinato da vereadora Marielle Franco e os tiros disparados contra a caravana de Lula como fatos decorrentes de uma mesma origem. Uma analise individual de cada um deles deixa patente que não existe relação entre os três.

Segundo o que se sabe, e ainda não há uma conclusão do caso, Marielle foi assassinada a mando das milícias que se instalaram no Rio de Janeiro. Sua morte, portanto, é fruto do crime organizado – e não da polarização política. Quanto aos tiros na caravana de Lula, jamais se chegou a um autor. O que se sabe é que o disparos se deram em local ermo e a uma altura que não representava risco aos ocupantes do veículo atingido, de modo que não seja possível aferir que inimigos ou adversários do ex-presidente estariam por trás do ocorrido. Já o caso da facada, trata-se do único em que a ação se deu em local público, com autor preso, e cuja esfera de sua atuação era a militância política, inclusive com passagens por partidos.

Casos objetivos devem ser analisados objetivamente e sem a distorção retórica da narrativa. Até aqui, falou-se muito do clima político do país e pouco do autor do crime praticado contra Bolsonaro. Ainda que seu nome tenha se tornado público, a culpa do esfaqueamento parece recair em uma abstração e não em Adélio Bispo de Souza. A punhalada não foi desferida por um sentimento que paira no ar, mas por um indivíduo. 

Se você gostou deste artigo ou de outros de nossos materiais, clique no link abaixo apoie Lócus fazendo uma assinatura anual. Com ela você terá acesso a conteúdos exclusivo.

 

 

Mais Acessados

Sair da versão mobile