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O eleitorado antipetista e conservador está farto do candidato tipo síndico

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Com o início da propaganda eleitoral obrigatória, era esperado que Geraldo Alckmin finalmente deslanchasse na disputa presidencial. O tempo no rádio e na televisão, o maior entre todos os candidatos, era visto como o trunfo capaz de subtrair votos de Jair Bolsonaro para finalmente fazer o tucano crescer nas pesquisas e ter alguma chance na eleição. Até aqui, o efeito tem sido nulo. Alckmin continua empacado na casa de um dígito, empatado com Marina Silva, Ciro Gomes e Fernando Haddad. O fracasso momentâneo pode ser explicado pela estratégia escolhida até o momento. Sua campanha tem batido pela esquerda, apostando em uma abordagem fracassada que jornalistas usaram para questionar o candidato do PSL nas sabatinas e entrevistas.

O PSDB  não entendeu que Bolsonaro não pode ser desconstruído pelos fatores que o levaram a ascender na política brasileira. Bolsonaro é fruto do exacerbamento das pautas politicamente corretas, que se tornaram influentes em parte da mídia e no show business, mas que não são bem vistas pelo cidadão comum. Outra razão é a própria omissão do PSDB, que nunca fez oposição ideológica ao PT. O partido, criado por quadros de centro-esquerda, jamais teve sintonia com seu eleitorado, composto pelos setores mais conservadores da sociedade.

Enquanto o lulapetismo se tornou hegemônico na esquerda, o PSDB jamais admitiu que lhe sobrou a direita. Os tucanos não representaram de fato esse eleitorado, que votava no partido por conveniência momentânea ou para evitar o mal maior. Com o surgimento de uma liderança política que se propôs a abraçar as pautas conservadoras, todos os votos que o partido achava que mantinha por cabresto mudaram de endereço.

A campanha de marketing de Alckmin ilustra muito bem essa desconexão com a realidade. Uma de suas primeiras peças foi uma réplica de um comercial anti-armas veiculado na Grã-Bretanha em 2007. A propaganda acompanha a trajetória de uma bala disparada por um revólver. No percurso, ela atravessa vários objetos nos quais há escrito “educação”, “saúde”, “saneamento básico” e “fome”. No fim, aparece uma criança, mas antes que o projétil a atinja, transforma-se na frase “não é na bala que se resolve”. 

O problema do spot é que, além de ter uma mensagem difícil de ser captada rapidamente, grande parte dos eleitores acha mesmo é que a única solução é na base da bala mesmo. Alckmin não precisa fazer sinal de revólver com a mão, mas também não deveria ignorar o resultado do referendo de 2005. Na época, a população votou maciçamente pelo direito de possuir armas. Bolsonaro, por outro lado, explora o direito de defesa ao ponto de transformá-lo em política pública de combate ao crime.

O PSDB achou que batendo em Bolsonaro recuperaria seus antigos eleitores. A única chance de conseguir isso, entretanto, seria afirmando Alckmin como o único antipetista viável. Para isso, os alvos deveriam ser Lula, Dilma e Haddad. Deveria, portanto, bater pela direita.

Essa eleição, assim como as anteriores, mostra que um terço da população rejeita as políticas esquerdistas do PT. Para atingir esse grupo, é preciso mostrar uma alternativa que seja consistente, inclusive em suas pautas. A campanha de Alckmin é um repeteco da campanha de 2006. Ele continua se apresentando apenas como um gestor eficiente. Esse figurino só cativa os público do interior de São Paulo. A fração antipetista da sociedade não parece mais interessada no candidato tipo síndico. No momento, prefere o candidato tipo capitão.

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