Passo Fundo

Janaína Portella: discurso polido, ativismo feminista moderado (mas constante) e poucas proposições

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Não é novidade, ao menos para aqueles que acompanham o trabalho da Lócus, que eu sou a parte da equipe responsável pela fiscalização do trabalho dos vereadores. Para isso, foi criado o “De Olho na Câmara”, seção na qual agrupamos tudo o que está relacionado à Câmara de Vereadores de Passo Fundo. Essa tarefa de fiscalização é novidade em Passo Fundo e, da forma como fazemos, ninguém faz. Nessas minhas andanças pelo Brasil, quando apresento o trabalho que realizamos na nossa cidade, é comum ouvir: “Ah, se tivesse uma Lócus na minha cidade…”

Na semana passada, um passo-fundense muito simpático me deixou sem palavras, na verdade sem uma resposta imediata, quando me questionou de uma forma bastante direta: “E a Janaína Portella?”

Eu acompanho semanalmente as falas da parlamentar, como faço atentamente com todos os outros. Na Lócus, não há privilégios. Com a eleição de quatro vereadoras nesta atual legislatura, foi até um alívio parar com essa desigualdade de gênero e poder criticar as mulheres na política também. Verdade seja dita: essa coisa de representatividade é uma bobagem. Na Lócus, graças ao nosso bom chefe, não precisamos ficar paparicando a Prefeitura e muito menos o conjunto dos vereadores. Ponto pra nós!

Eu respondi da seguinte forma: “Foi bom perguntar, porque até agora ela não chamou de forma alguma a minha atenção. E certamente isso está acontecendo porque ela deve estar produzindo pouco”. De forma nenhuma estou afirmando que a vereadora parou de trabalhar assim que assumir a cadeira na Câmara – não é nada disso. Os bastidores da política local demandam atividade constante dos vereadores, ações comunitárias e visitas locais realizadas diariamente (acreditem ou não, muita gente ainda acha que uma lâmpada queimada na rua é tarefa para vereador resolvem. Calculem…).

Por sorte, nesta semana, na Sessão Plenária do dia 10 de maio do ano corrente, na última segunda-feira, o grande expediente foi realizado pela Janaína Portella. Como de praxe, apresentou-se. Mostrou imagens dos seus familiares. Apresentou seu currículo (com ênfase ao título de “Master Coach Sênior”). Professora. Advogada. Empresária. Creiam: não é uma mulher que entra crua na Câmara.

Em relação ao seu gabinete, disse estar orgulhosa, pois é uma equipe que representa, nas suas palavras, “muito bem a nossa sociedade, com diversidade, com trabalho e com meritocracia”. No entanto, pela imagem abaixo, mostra-se evidente que o gabinete é apenas formado por mulheres: não há nenhum negro, nenhum homem – nada além de mulheres! Sinceramente, não sei que raios de diversidade é essa. É mais falatório do que realidade. De qualquer forma, compete à parlamentar escolher seus assessores de confiança. Mas volto a dizer: o discurso é uma coisa, a realidade é bem diferente…

Desde a primeira sessão plenária, a única coisa que me chamou a atenção nos seus momentos de tribuna foi na defesa dos empresários durante a pandemia. No entanto, não sei informar se alguma coisa de concreto ocorreu a partir daí. Mas não se enganem: advoga a necessidade de cuidados, de medidas preventivas e protetivas, de vacinação, de salvar vidas, de coisas nesse sentido. Sabendo agora que ela é empresária, aquela admiração inicial esmoreceu: penso que tenha sido um discurso mais pessoalizado do que de alguém realmente interessado em criticar os abusos cometidos pelos governos estadual e municipal durante a pandemia.

Em consulta ao trabalho legislativo, foi uma surpresa encontrar um número tão reduzido de referências. Em geral, sobretudo nos primeiros meses de atuação, é comum que um vereador tenha, ao menos no que se refere a pedidos de providências, um dado quantitativo expressivo. O quadro a seguir foi gerado a partir de consulta realizada no final do dia 11 de maio.

Os dois projetos de lei protocolados por ela são desanimadores. Mais uma pauta relacionada à violência contra mulher (isto é pauta feminista e o ordenamento jurídico brasileiro já saturou o assunto, ok?) e uma proposta nada intimidadora de multar aqueles que furarem a fila da vacinação do covid (se o lance é “salvar vidas”, qualquer um que tenha sido suficientemente enlouquecido pela grande mídia irá dar um jeito de salvar a sua!).

De qualquer forma, ainda é cedo para tratar o assunto de forma definitiva. Não chegamos nem à metade do primeiro ano de mandato da atual legislatura. Ainda há muito chão pela frente. Se alguém acha que este artigo foi escrito para atacar a vereadora, engana-se: ninguém torce mais para que um vereador faça a coisa certa quanto qualquer membro da equipe da Lócus. À vereadora Janaína desejo os meus mais sinceros votos de sucesso no seu mandato.

Vale destacar que TODOS  os vereadores, oportunamente, serão avaliados pela equipe da Lócus. E mais de uma vez. Ainda há tempo para todos, tanto para acertos quanto para erros.

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