Educação

Sobre o retorno das aulas: afinal, quais são as demandas estavam em jogo? (Parte 2)

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A equipe da Lócus conversou com a vereadora Regina dos Santos (PDT) e com Eduardo Albuquerque, diretor do CMP Sindicato, para entender melhor como estão as condições – de um modo geral – para o retorno das aulas em Passo Fundo

No dia 3 de junho, publicamos a primeira parte desta matéria, quando conversamos com a vereadora Regina dos Santos (PDT) sobre a situação da pandemia relacionada ao retorno das aulas na rede municipal em Passo Fundo. Agora, na segunda parte, Eduardo Albuquerque (imagem), professor e diretor do CMP Sindicato, conversou conosco sobre o mesmo assunto, complementando pontos discutidos com a parlamentar.

Contexto

Na Sessão Plenária do dia 26/04/2021, da Câmara de Vereadores de Passo Fundo, a parlamentar Regina Costa dos Santos (PDT) ocupou a tribuna para falar sobre educação nos tempos de pandemia. Como professora, é natural que a educação seja uma das suas bandeiras na Câmara.

Professora Regina, vereadora pelo PDT, no seu grande expediente do dia 31 de maio de 2021.

Na ocasião, Regina disse que a educação merece “respeito”, “responsabilidade” e “planejamento” por parte dos gestores. Como as expressões destacadas são comumente utilizadas para tratar a maioria dos assuntos na Câmara, a vereadora foi procurada com o intuito de esclarecer melhor esse ponto, a quem as seguintes perguntas foram direcionadas:

a) A senhora disse na tribuna que “a Educação merece respeito”. Qual o exato alcance da palavra respeito neste caso? O que seria um “ato de desrespeito” direcionado neste momento à Educação?

b) O que o sindicato dos professores quer, afinal, para retornar às aulas? A vacinação dos professores basta? O que mais é necessário? (Quando realizada esta pergunta, a prefeitura de Passo Fundo já havia determinado o retorno)

c) Qual o protocolo que o CMP ou demais sindicatos sugeriram para o retorno das aulas?

De acordo com a parlamentar, ela tem ido às instituições de ensino e fiscalizado de perto como estão as condições de trabalho dos professores, com agenda intensa de visitas e reuniões. É preciso destacar que, conforme pontuado pela vereadora, as suas respostas eram de cunho pessoal, em nenhum momento se fazendo representante de qualquer sindicato: “Eu só posso me manifestar acerca do meu gabinete, jamais como porta-voz dos sindicatos de classe“.

Em relação à primeira pergunta, ela disse que o respeito exigido estava intimamente associado aos ataques que a classe dos professores tem sofrido, quando injustamente dizem que os professores não querem o retorno das aulas e que não querem trabalhar. Há um abismo entre a realidade das escolas privadas e públicas, sobretudo quando comparados os recursos tecnológicos das instituições e o acesso à internet por parte dos alunos. Para ela, o poder público teve cerca de um ano para preparar o retorno das aulas com as condições necessárias, mas acabou deixando para última hora, exigindo que os professores improvisem na maneira como conduzem as atividades escolares. Mencionou, inclusive, o posicionamento do deputado federal Ricardo Barros (Progressistas-PR), líder do governo federal na Câmara dos Deputados: “os gestores públicos, além de não darem as condições necessárias para o retorno e criticar o trabalho dos professores, colocam a população contra a a categoria dos profissionais da Educação“.

Para ela, com a paralização das aulas, muita economia foi feita. Em outras palavras, com as aulas suspensas, parte dos recursos destinados à educação não foram utilizados. Esse montante poderia ter sido revertido para a aquisição de materiais tecnológicos para condução das aulas de forma remota. O seu gabinete fez indicação para que fossem entregues kits de alimentação para as famílias dos alunos mais carentes, já que a merenda escolar não estava sendo distribuída: “A gente sabe que há muitas crianças que frequentam a escola para poderem se alimentar“, lamentou.

Em relação à segunda e à terceira pergunta, a vereadora disse que deixaria a cargo do Sindicato. No entanto, afirmou que o CMP colaborou com a elaboração do protocolo de retorno e não tem medido esforços para fiscalizar o retorno das atividades escolares.

Em outra oportunidade, perguntamos a quem ela se referia quando afirmava “a responsabilidade é dos gestores públicos”. Afinal, de quem ela está falando? Ela respondeu: “Governo Federal, Governador Estadual e prefeito de Passo Fundo; enfim, todos os responsáveis pela política de enfrentamento ao Covid e da Educação pública“.

Ainda, questionamos quais seriam, na opinião dela, as condições de trabalho ideais para os professores. Em resposta: “Quanto ao que precisa: garantia dos protocolos sanitários, disponibilizar testagem, vacina, equipe de monitoramento e equipamentos tecnológicos e internet. Isso seria o básico, considerando que estamos ainda em meio a uma pandemia“.

CMP Sindicato

Importante destacar que, na mesma semana em que contatamos a professora Regina e o CMP Sindicato, o Poder Executivo Municipal havia decretado o retorno das atividades escolares presenciais [maio de 2021]. De qualquer forma, julgamos que seria importante procurar entender as motivações da classe dos professores. Direcionamos uma pergunta extensa para o professor Eduardo Albuquerque, para saber exatamente o que os profissionais da educação queriam para retornar às aulas:

Lócus: A professora Regina disse que não poderia falar em nome do Sindicato. Por isso, pergunto: o que os professores querem para o retorno imediato das aulas? Existe um protocolo? O que exatamente a classe dos professores quer? Digamos que todos os professores sejam imunizados, eles retornariam imediatamente às aulas ou isto é insuficiente? O que de concreto os professores querem dos gestores públicos?

Eduardo Albuquerque respondeu o seguinte:

Bom, em primeiro lugar, quero dizer que “não é que queiramos voltar [às aulas]”, pois nós voltamos! Já estávamos trabalhando online. Mas já que você se refere à questão das aulas presenciais, nós retornamos ainda no dia 3 de maio, mesmo sem as vacinas. Aqui [Passo Fundo], o Município optou por um retorno escalonado – que é no mínimo de bom senso, pois você vai fazendo com que aos poucos as coisas comecem a funcionar, e o risco de acontecer alguma coisa é bem menor. 

Respondendo objetivamente à sua pergunta, o que nós queremos é sim a vacinação de todos os profissionais da educação, deixando bem claro que não se trata apenas dos professores, mas de todos os profissionais que trabalham em função da escola (merendeiras, secretárias, faxineiras), isso porque nós não podemos tão somente imunizar um grupo de profissionais da escola e deixar os demais sem esse tipo de proteção, pois obviamente as coisas não vão funcionar.

Em paralelo a isso, nós queremos que os protocolos do COE, que já foram estabelecidos e que estão adequados, sejam cumpridos à risca. Isso garante a proteção de todos os profissionais. Máscara, distanciamento, organização da escola, número de alunos por sala, isso tudo já foi estabelecido pelo COE [Comitê de Orientação Emergencial]. O Ministério Público do Trabalho estabeleceu cerca de 23 medidas de segurança, que são muito parecidas com as medidas que já estão nos protocolos do COE municipal.

Obviamente que queremos a vacinação. Quanto mais pessoas vacinadas, mais tranquilidade nós teremos para esse retorno, o qual, como eu já lhe disse, está acontecendo mesmo sem a vacinação [em maio].

A equipe da Lócus agradece o imediato retorno do professor Eduardo, que nos atendeu muito cordialmente, complementando prontamente as dúvidas relacionadas ao tema da educação municipal.

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