Eleições 2022

CNBB em dois momentos: reclamando do uso político da religião em 2022 e apoiando Dilma em 2015

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A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil tem visões conflitantes sobre a mistura de religião com política no país

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) publicou nota no último dia 11 de outubro contra o que chamou de “intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno”. O protesto – coincidência ou não – vem na esteira da presença do candidato Jair Bolsonaro no Círio de Nazaré na cidade de Belém do Pará.

Diz a nota, na íntegra:

NOTA DA PRESIDÊNCIA

“Existe um tempo para cada coisa” (Ecl. 3,1)

Lamentamos, neste momento de campanha eleitoral, a intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno. Momentos especificamente religiosos não podem ser usados por candidatos para apresentarem suas propostas de campanha e demais assuntos relacionados às eleições. Desse modo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lamenta e reprova tais ações e comportamentos.

A manipulação religiosa sempre desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil. É fundamental um compromisso autêntico com a verdade e com o Evangelho.

Ratificamos que a CNBB condena, veementemente, o uso da religião por todo e qualquer candidato como ferramenta de sua campanha eleitoral. Convocamos todos os cidadãos e cidadãs, na liberdade de sua consciência e compromisso com o bem comum, a fazerem deste momento oportunidade de reflexão e proposição de ações que foquem na dignidade da pessoa humana e na busca por um país mais justo, fraterno e solidário.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Presidente da CNBB

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Primeiro Vice-presidente da CNBB

Dom Mário Antonio da Silva
Arcebispo de Cuiabá (MT)
Segundo Vice-presidente da CNBB

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário-geral da CNBB

Link para a publicação em PDF, aqui.

CNBB e o impeachment de Dilma Rousseff

Em 2015, o espírito da CNBB sobre a relação entre religião e política era bem diferente. Por ocasião do processo de impeachment da presidente petista Dilma Rousseff, a entidade também usou o recurso de nota para condenar o ato. Em “Para onde caminha o Brasil?”, de dezembro de 2015, disse:

A Comissão Brasileira Justiça e Paz, organismo da CNBB, no ensejo da ameaça de impeachment que paira sobre o mandato da Presidente Dilma Rousseff, manifesta imensa apreensão ante a atitude do Presidente da Câmara dos Deputados.

A ação carece de subsídios que regulem a matéria, conduzindo a sociedade ao entendimento de que há no contexto motivação de ordem estritamente embasada no exercício da política voltada para interesses contrários ao bem comum.

O País vive momentos difíceis na economia, na política e na ética, cabendo a cada um dos poderes da República o cumprimento dos preceitos republicanos.

A ordem constitucional democrática brasileira construiu solidez suficiente para não se deixar abalar por aventuras políticas que dividem ainda mais o País.

No caso presente, o comando do legislativo apropria-se da prerrogativa legal de modo inadequado. Indaga-se: que autoridade moral fundamenta uma decisão capaz de agravar a situação nacional com consequências imprevisíveis para a vida do povo? Além do mais, o impedimento de um Presidente da República ameaça ditames democráticos, conquistados a duras penas.

Auguramos que a prudência e o bem do País ultrapassem interesses espúrios.

Reiteramos o desejo de que este delicado momento não prejudique o futuro do Brasil.

É preciso caminhar no sentido da união nacional, sem quaisquer partidarismos, a fim de que possamos construir um desenvolvimento justo e sustentável.

O espírito do Natal conclama entendimento e paz.

 

O texto foi assinado por Carlos Alves Moura, então secretário Executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz (Organismo da CNBB).

Acima: o tipo de texto que podemos encontrar no site da CBJP. Muito mais, aqui.

Parece que a CNBB se opõe a política supostamente entrando em momentos especificamente religiosos, mas já jogou a sua luz em momentos especificamente políticos do país. Reconhecida por muitos como uma entidade de esquerda, a entidade confirma esta percepção popular a cada intervenção com cunho ideológico em assuntos que lhe interessam.

Via Lócus Online.

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