Passaportes vacinais tentando obrigar pessoas a submeter seus corpos a invasão por metodologias ainda em fase de teste, principalmente por populações de baixo risco de gravidade, criou o paradoxo “vacinar os outros para proteger os vacinados”
Num mundo onde todos somos alvos de doenças transmissíveis, patógenos que nos contaminam se multiplicam em nosso organismo, destruindo células aos milhares. Ao multiplicarem-se aos milhões, fica claro que, ao preparar o nosso organismo, nossos anticorpos podem ser a melhor forma de enfrentar uma ameaça à vida. Para tanto, vacinas são necessárias.
Durante séculos a humanidade foi assolada por doenças tanto bacterianas quanto de origem viral, transmissíveis pela respiração, por contato ou até por vetores como insetos, que colocavam sociedades de joelho com alta mortalidade e complicadas sequelas. Tudo começou a mudar com a vacina da varíola, que de forma tão eficaz, não só controlou a pandemia, como erradicou o vírus de circulação.
Em muitos países, há pouca adesão a vacinas e campanhas de imunização, predominantemente em sociedades mais desenvolvidas, uma vez que epidemias desencadeadas por patógenos difundidos pela falta de higiene ou por vetores ligados à pobreza, como insetos e ratos, não são estatisticamente significantes.
Já no Brasil, a vacinação mudou a curva para essas epidemias. A paralisia infantil, que causava sequelas e até matava milhares de crianças, foi erradicada por décadas. Sarampo e caxumba se tornaram raríssimas, e a febre amarela passou a ser controlada em níveis confortáveis.
Mas o que levou esse povo a aderir tão facilmente a essa modalidade de tratamento? Em especial, podemos dizer que a segurança e confiança das vacinas desenvolvidas de forma adequada colaborou com o processo, respeitando todas etapas científicas necessárias para garantir o mínimo de efeitos colaterais e riscos para os vacinados.
Nos dois anos que vivemos constantemente assolados por uma pandemia que, sem dúvida, atingiu milhões e matou centenas de milhares, desejar uma vacina contra o Covid se tornou um lugar comum não só para os brasileiros, como para o restante do mundo. Porém, a politização do tema – associado ao interesse financeiro das empresas que as desenvolveram – tornou a campanha de vacinação um verdadeiro turbilhão de emoções. De um lado, aqueles que queriam se vacinar, acreditando que assim garantiriam o fim do coronavírus, não se importando com risco ou com a efetividade da vacina; queriam apenas um suporte para se agarrar durante o espetáculo midiático criado, com propagação diária em rede nacional do número de mortos e da capacidade de leitos em CTI’s. Do outro lado, cidadãos desacreditando que tecnologias novas de vacinação – ou mesmo tradicionais – poderiam ser a melhor opção.
O meio termo, em que prudência e necessidades são avaliadas e direitos fundamentais são garantidos, poderia ser a melhor maneira de acalmar os ânimos. Contudo, ameaças e acusações, sanções e até mesmo restrições foram propostas para garantir que aqueles que dominavam a mídia e a opinião politicamente correta tivessem seus objetivos alcançados. Isto é o que prevaleceu! Uma verdadeira corrida para comprar vacinas, mesmo antes de testadas, foi iniciada; políticas públicas, mesmo desconhecendo riscos desses tratamentos, foram apreciados pelos poderes legislativo e judiciário e direitos fundamentais foram ignorados.
Resultados de pesquisas tiveram seus dados “arredondados” para liberarem vacinas e satisfazer interesses políticos; milhões de reais, senão bilhões, foram gastos com contratos de fornecimento, muitas vezes descumpridos pelos fornecedores. Idosos, os mais gravemente atingidos pelo Covid, foram submetidos a imunizantes os quais hoje sabemos que necessitam de complementação para atingir a eficiência desejada – isto representa dinheiro público gasto com tratamento incompleto e nenhuma notícia publicada a respeito.
Passaportes vacinais tentando obrigar pessoas a submeter seus corpos a invasão por metodologias ainda em fase de teste, principalmente por populações de baixo risco de gravidade, criou o paradoxo “vacinar os outros para proteger os vacinados”.
A sociedade politicamente correta, com o suporte da mídia, ignorando os preceitos fundamentais da Constituição (além do bom senso), como a inviolabilidade do corpo, o pátrio poder e a liberdade de ir e vir. Acusações de negacionistas, terroristas e genocidas. E, um tanto pior, sem evidência alguma, tentam obrigar aqueles que naturalmente já desenvolveram anticorpos possivelmente mais eficazes, os que já se curaram do coronavírus, a se submeter a vacinação coerciva.
Crianças, nossos filhos, nosso legado, serão possivelmente coagidos – a fim de frequentar a escola – de receber vacina de uma doença que rarissimamente pode levar a um desfecho desfavorável sobre a faixa etária abaixo dos 12 anos, com um agente com tecnologia nova, como as vacinas de mRNA (que seguramente seriam a melhor opção pela sua eficácia nos idosos), que poderá apresentar complicações a longo prazo, especialmente numa população tão jovem, potencialmente apresentando mais riscos do que benefícios para eles.
Inverteu-se a ordem da lógica para satisfazer a pressa, o interesse, a política. Semeou-se o pânico e a ansiedade para garantir o controle. Isso tudo sancionado por indivíduos em posição oficial atuando em órgãos como ANVISA e CFM, que jamais compactuaram com a coerção ou obrigatoriedade de impor tratamentos. Se opuseram a corrente mais éticas dos médicos, de jamais submeter seus pacientes a tratamentos não aceitos pelos mesmos, e nem mesmo querem obrigar o cidadão a revelar seu prontuário através de um passaporte vacinal, ignorando o sigilo médico.
Pior que isso tudo, por fim, será o legado. Tanta arbitrariedade respingará no futuro. Consequentemente, isso afetará uma tradição tão bonita do brasileiro de consentir e aderir tão facilmente a campanhas vacinais, desde que com tecnologias sabiamente seguras e doses eficientes.
*Dr. Guilherme Krahl é cirurgião cardiovascular em Passo Fundo
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